Eu sou daquelas que, com o passar do tempo, me canso de algumas coisas. Roupas, acessórios, livros, posição dos móveis, de fazer as mesmas atividades em um emprego, da rotina diária, do caminhar da minha vida. Já cansei de amores e relacionamentos que seguiam sempre pelo mesmo fluxo - ou calmaria demais e rotineira, ou discussões diárias. Tudo uma hora cansa. E quando surge esse sentimento é porque é hora de mudar. É como se meu ponto de vista sobre as coisas também fosse se transformando. E acho ótimo tudo isso. Precisamos, sim, de mudanças em nossas vidas para movimentarmos a energia. Chega, então, a hora de nos desapegar do passado e darmos lugar ao novo: novos rumos, novos amores, novos ares, novas amizades, novos desafios, novas trilhas, novas decisões. Mas, confesso, que nem sempre largar totalmente o passado onde ele deve ficar, é tão simples como imaginamos.
Se você se encontra nessa dificuldade, deixo aqui um texto de Fernando Pessoa, que uma amiga postou no Facebook, para que possa refletir sobre o desapego e largar - definitivamente - tudo o que passou.

Pratique o desapego

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos que já se acabaram. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.

Estou em um momento um tanto decisivo em minha vida. Meio que ao longo dos últimos 20 anos eu apenas vivi por inércia. Calma, não estou fazendo dramalhão mexicano ou querendo dizer que estou em uma fase deprê. Pelo contrário e longe, muito longe de tudo isso.

Venho, como nunca, analisando minha vida. E percebo que muito vivi apenas por "comodismo" ou porque deixei a vida me levar. Não impus resistências, não impus barreiras, mesmo minha alma gritando e se esgoelando para eu ouvi-la de que aquele não era o caminho que 'ela' queria que eu seguisse, como minha missão nesta vida. Como uma criança birrenta, tapei os ouvidos e segui por inúmeros caminhos tortuosos e que me levaram a chegar a uma bifurcação, que é onde me encontro hoje.

Seguir no mesmo caminho, o qual venho anos e anos caminhando lentamente, sem lenço, nem documento; ou tomar outro rumo, completamente diferente de toda a bagagem que carrego nos meus ombros? Eis a questão e o dilema está instaurado.

É preciso muita calma, muito equilíbrio para analisar com calma tudo o que vem acontecendo. Mas, tenho certeza que, agora com os ouvidos na minha alma e, principalmente, no meu coração, qualquer escolha que eu decidir hoje será a escolha certa. Não sei como explicar, mas, mesmo diante de uma decisão tão importante como essa, sinto uma calma dentro de mim e um sentimento de paz, de alívio e de felicidade. É como se eu entrasse em harmonia com o ser que habita dentro de mim. Como se, agora sim, tivéssemos o mesmo coração e falássemos a mesma língua.

Fiquei surpresa ao ver um texto no site da revista Época com o título "Alguém especial", do jornalista Ivan Martins. Surpresa porque comprova uma observação que tenho feito há anos sobre a insatisfação das pessoas em relação ao "par ideal",  mesmo sabendo que a moda do momento é curtir a vida até esse "alguém especial" aparecer.

Seria simples se o fato de encontrar esse tal alguém não fosse uma missão quase impossível nos dias de hoje. Impossível porque nessa curtição desenfreada em que as pessoas estão vivendo, tentanto separar e isolar seus sentimentos, a coisa mais difícil que tem acontecido é a entrega verdadeira do coração para a chegada da tal pessoa. "E se não for? E se eu sofrer? E se...". E aí a oportunidade de conhecer 'alguém especial' já passou.

Digo, por experiência própria, que curtir adoidado enquanto se espera a chegada da tal pessoa, é, de longe, uma atitude inteligente. Nos enganamos, acreditamos que conseguimos separar a curtição dos sentimentos. Porém, esquecemos que a tal curtição que as pessoas falam camufla alguns sentimentos perigosos, que podem nos empurrar para armadilhas do próprio coração: carência, medo de se sentir sozinho, insegurança e baixa autoestima. Esses são os principais vilões que nos fazem agir dessa forma: "curtindo a vida adoidado" com quem não agrega nada em nossa vida e, provavelmente, também nos enxerga apenas como um passatempo.

E se enquanto estivermos na tal curtição aparecer a suposta pessoa especial e ela acreditar que nosso coração já está ocupado por alguém, mesmo que esse alguém não signifique nada - absolutamente nada - pra gente? Pois bem, lá se foi novamente uma grande oportunidade. Por isso pergunto a você: vale a pena curtir a vida dessa forma, ficando com várias pessoas, fingindo que não sentimos nada pelo outro, enquanto se espera pelo 'alguém especial'? Mais do que nunca, eu chego à conclusão que, realmente, não vale a pena.

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