Recebi este texto e achei muito interessante, principalmente porque representa bem algo que acabei de ler no livro "Conversando com Deus", de Neale Donald Walsch. Segundo "Deus", nós somos movidos apenas por dois sentimentos: o medo e o amor.


O Salto
"A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, nos espere uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato - pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante. Mas entre o silêncio que pode estar nos aguardando então e o presente - você acabou de sair da minha casa, uma vez ou outra ainda consigo sentir o seu cheiro pelo quarto -, quem sabe não seremos felizes! Entre a concretude do beijo de cinco minutos e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.


Passos atrapalhados de dança e risadas, no corredor do meu apartamento. Respirações ofegantes, cafunés. Uma festa cheia de amigos queridos. Estradas, borrachudos, a primeira visão de sua nécessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), banhos de mar - você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos as ondas -, mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu-bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais presos por ímãs na porta da geladeira e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo, e saberei, com a certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.

Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não ?

Tudo que sabemos agora é que te quero, você me quer e temos todo o tempo e espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte - sobretudo, quem sabe?!, sorte - é capaz que dê certo. Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe uma centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo - o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão -, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto."

(O Salto - Antonio Prata)

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