Hoje o dia começou estranho. Primeiro, meus olhos estavam inchados. Sim, sinais de que a noite tinha sido em claro e ainda com direito a rios e correntezas de lágrimas. Reflexões, aliás, muitas reflexões e uma avalanche de tanta coisa guardada e acumulada, como se anos e anos de vários sentimentos juntos tivessem me falado: agora chega, queremos sair já aí de dentro porque não há mais espaço nem pra um suspiro de irritação. E assim foi: uma explosão de raiva contida, estresse, nervosismo, cansaço. Enfim, tudo transformado em um bom banho para a alma.

E, com os olhos inchados, o sono acumulado pela noite pessimamente dormida, o dia começou. E como eu disse, começou estranho, já anunciando que seria mais um dia daqueles: e-mails chegando, telefone tocando, coisas a fazer acumulando, amigos contando problemas, outros falando notícias tristes, outros me relatando indignações também de seus trabalhos. Assim seguiu meu dia, um tanto conturbado. Na noite anterior havia aliviado uma parte do que estava dentro de mim, mas sentia (e ainda sinto) que boa parte ainda está armazenada em algum lugar dentro deste ser que aqui escreve. E uma apatia, uma sensação de desânimo com a vida começou a me abater. Não que fosse causada pelo que ouvia dos meus amigos, não, pelo contrário, mas como se as vozes internas começassem também a querer falar dentro de mim: "ei, só você ouve seus amigos, e eu aqui dentro de você? Por que não me escuta? Se sempre estou aqui, reclamando pra você? Ei, e eu aqui, que sempre estou com dor e você nem me ajuda?" E assim por diante.

De repente, eis que, no meio de tantas coisas estranhas acontecendo, surge um amigo querido no messenger, que há tempos não tinha notícias. Como de costume, ele entra rapidamente e fala: "Oi Flá, está tudo bem com você?". Respondi tentando desviar o assunto e perguntei sobre ele, que me respondeu, sem eu explicar nada sobre a minha noite anterior e o meu momento atual: "Espera, você não está bem. O que está acontecendo? Vamos marcar de tomar um café, só para eu te dar um abraço". 

Há anos que não vejo um gesto tão simples, mas que é o que mais queremos em um momento como esse: que alguém simplesmente nos dê um abraço e nada mais. Como se a magia e energia desse abraço pudessem amenizar qualquer situação ruim que esteja acontecendo com a gente. E abraço de amigo tem um poder fantástico, que muitas pessoas nem ao menos imaginam, mas que deveriam praticá-lo muito mais.

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